TODO DIA A MESMA NOITE, a história não contada da Boate Kiss


Livro: TODO DIA A MESMA NOITE, a história não contada da Boate Kiss

Autor: Daniela Arbex

Editora: Intrínseca – Ano: 2018

 

 

            Quem não ouviu falar da tragédia da Boate Kiss, ocorrida em 2013 na cidade de Santa Maria, e que ceifou a vida de 242 jovens e deixou 636 feridos?

            Bem, este livro conta a história de alguns desses jovens e de como suas famílias vêm sobrevivendo a esta perda tão dolorosa.

Escrito em 2018, isto é, 5 anos após o ocorrido, ainda hoje retrata a atualidade da situação, visto que os culpados pelo incêndio que marcou tristemente o cenário nacional ainda não foram julgados pelos 242 homicídios dolosos contra a vida e 636 tentativas de homicídio. A verdade é que foram muitos recursos e muitas discussões em torno das responsabilidades pela tragédia que acabaram por determinar a “eterna” espera por justiça que as famílias tão legitimamente aguardam desde 27 de janeiro de 2013, noite do evento que tirou dessas famílias seus amores: seus filhos, seus irmãos, seus sobrinhos, seus pais, seus netos, seus amigos.

            O livro é, acima de tudo, sobre a dor humana.

            A autora traz à tona os bastidores da história de uma tragédia anunciada e que, portanto, poderia ter sido evitada.

Ela revela os caminhos que famílias percorreram para encontrar seus filhos no meio do caos que se instalou no entorno da Boate Kiss na fatídica noite do incêndio e nos demais dias que transcorreram em buscas por hospitais, procurando em listas de sobreviventes e, finalmente no Ginásio de esportes em que foram dispostos os corpos das vítimas, para reconhecimento.

As narrativas são profundamente tristes e angustiantes.

Não há como não pensar em nossos próprios filhos, nossos jovens, nossos amores, e não chorar junto com aqueles pais.

            A obra de Daniela Arbex consegue transmitir a exata dimensão dos acontecimentos, em todas as suas nuances. Como, por exemplo, a exploração financeira da morte, por parte das funerárias; ou, o desejo por fotos íntimas dos corpos expostos no Ginásio, para futura venda à mídia; ou, ainda, a cadeia de omissões que permitiu à Boate Kiss, desde a sua inauguração, em 2009, funcionar sem estar completamente legalizada, inclusive no tocante à proteção contra incêndios, e que redundou, junto com a negligência dos donos da Boate e dos músicos da Banda que lá se apresentava, o tenebroso resultado que já conhecemos.

            Importante ressaltar que a autora é uma jornalista muito premiada nacional e internacionalmente e que escreveu outros livros de excelência, de sorte que, embora o tema seja delicado, a abordagem que Daniela faz tem o perfeito equilíbrio entre a realidade do que aconteceu e o respeito às vítimas e seus familiares.

            Sem dúvida, esta é uma leitura difícil.  Mas, é uma realidade que precisa ser do conhecimento público para que nunca mais se repita o que aconteceu na Boate Kiss.

                                                                                   Recomendo a leitura.

 

P.S.: No site do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (www.tjrs.jus.br) existe um tópico dedicado exclusivamente ao acompanhamento público do ‘Caso Kiss’, como ficou conhecido no meio policial e jurídico. Lá, se pode saber tudo sobre essa situação. Há, inclusive, uma linha de tempo que permite ao leitor compreender melhor o encadeamento dos fatos. Fica a dica para quem desejar acompanhar esta história, cujo júri popular, em Porto Alegre, está marcado para dezembro de 2021.

 

 

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