DEXHEIMER, 800 NOITES DE JUNHO


 

Livro: DEXHEIMER

800 NOITES DE JUNHO

Autor: David Coimbra

Editora: Artes e Ofícios – 1ª edição, 1993

 

            Nesta obra, o jornalista David Coimbra nos traz os bastidores de um dos mais famosos casos de homicídio ocorridos no Rio Grande do Sul: O Caso Daudt.

A vítima: na noite de 04 de junho de 1988, José Antônio Daudt, deputado estadual e jornalista gaúcho, foi assassinado com dois tiros de espingarda calibre 12, em frente ao edifício onde residia em Porto Alegre, capital do Estado do RS, quando voltava para casa à noite.

O atirador: um homem branco, de barba, usando um boné, que estava dentro de um Monza cinza, estacionado na rua em frente ao edifício de Daudt e que logo após atirar foi visto por algumas testemunhas deixando o local em alta velocidade. Na sequência, a vítima foi socorrida por dois brigadianos* que estavam por perto e levada ao Hospital de Pronto Socorro da cidade.

Assim que a notícia do atentado contra o deputado Daudt se espalhou, reuniram-se, no HPS, os amigos de Daudt, bem como toda a imprensa gaúcha e cúpula da Polícia Civil da cidade. Ali mesmo, os amigos de Daudt já anunciavam o nome do culpado pelo brutal assassinato: seu colega de Assembleia, o médico Antônio Carlos Dexheimer Pereira da Silva e o motivo do homicídio seria a paixão que sua mulher Vera Mincarone (de quem se separara havia quatro meses) passara a nutrir por Daudt, com o consequente assédio ao deputado (segundo ele mesmo teria confidenciado a alguns amigos).

            Atônito com tal acusação, que já chegara a seus ouvidos, Dexheimer negou veementemente a autoria do criem e, ao saber qual seria a alegada motivação que o teria levado ao ato criminoso, levou a público a informação de que Daudt era homossexual, o que “era sabido por todos na Assembleia Legislativa”, de sorte que não havia qualquer razão para que tivesse ciúme da vítima; ademais, disse ele, não tinha qualquer óbice a que sua ex-mulher vivesse sua vida como desejasse, pois nenhum interesse tinha em reatar o casamento.

            Desse ponto em diante, a narrativa traz detalhes das ações de Dexheimer durante as investigações, seu sofrimento, seus medos, suas inseguranças, suas entrevistas para a mídia, seu sentimento de injustiça e como lidou com tudo que estava lhe acontecendo.

Até então não havia constituído advogado, sob o argumento de que não acreditava que a situação fosse adiante ao ponto de levá-lo a júri popular. Assim, somente constituiu sua defesa técnica às vésperas da conclusão do inquérito policial, por intermédio de sua família, que o levou à contratação do lendário advogado Oswaldo de Lia Pires, um notório e muito experiente criminalista gaúcho.

Em seguida, já indiciado e com posterior denuncia à justiça pela morte de Daudt, passa a se comportar perante a mídia de forma sempre discreta e silenciosa, conforme instruído pelo seu advogado. Nesse contexto, já não dava mais entrevistas em rádio, TV ou jornal escrito, como fizera antes de ter assessoramento técnico.

Assim, em 20 de agosto de 1990 iniciou-se o julgamento de Antônio Carlos Dexheimer Pereira da Silva perante o Pleno do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (devido ao foro especial a que tinha direito, em virtude de ser deputado estadual, não foi a júri popular).

A capital gaúcha parou durante os três dias de julgamento. Toda a atenção da mídia e da população estava centrada no julgamento do Caso Daudt. Em termos de universo jurídico, as inovações trazidas pelo Dr. Oswaldo de Lia Pires foram fantásticas. Ele teve a ideia de utilizar um computador e um telão, para fazer um “tira-teima” das alegações da testemunha-chave da acusação, a fim de comprovar que ela estava mentindo, pois como era possível ver na animação 3D, ela não teria como enxergar o crime de onde disse estar, menos ainda de divisar quem estava sentado ao volante do Monza. Hoje, parece banal esse estratagema, mas na época foi a primeira vez que se pensou em fazer algo do tipo. A habilidade de atuação de Lia Pires no júri era de conhecimento público. Dessa forma, em face do grande interesse que o caso despertou na população, ele foi televisionado para todos os gaúchos, que muito atentos puderam a tudo acompanhar até ao final ouvirem dos desembargadores seus votos, que somados em maioria deram a Dexheimer, após mais de dois anos de espera a tão almejada absolvição.

 

 

P.S.:

Ø  O livro foi escrito com base em entrevistas dadas na época pelos personagens envolvidos na trama, com base nos autos do processo e, também, de acordo com informações repassadas pelo próprio acusado Antônio Dexheimer.

Ø  Foi escrito cinco anos após o homicídio.

Ø  Hoje, mais de 30 anos depois do fato criminoso, o caso ainda não foi solucionado.

Ø  A prescrição punitiva do Estado encerrou em 2008. Logo, ainda que se encontre o verdadeiro matador do deputado José Antônio Daudt, já não será mais possível levá-lo a julgamento.

Ø  Muitas das pessoas que acompanharam o caso em Porto Alegre, ainda hoje acreditam que Dexheimer é o culpado pelo crime. É o fardo que todo acusado carrega, mais ainda quando a polícia não logra encontrar o real culpado.

Ø  Brigadiano é a forma como se chama o policial militar no Estado do RS. Lá existe a “Brigada Militar” e não “Polícia Militar”. A diferença está somente na nomenclatura.

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