MARIA DEGOLADA, SANTA ASSOMBRADA


 

Livro: MARIA DEGOLADA, SANTA ASSOMBRADA

Autor: Caio Riter

Editora: edelbra – ano 2014

 

            Quem não gosta de uma boa história de assombração?

Eu gosto. Por isso, resolvi te contar a história da Maria Degolada. Na verdade, existem muitas versões dessa história e aqui vou te contar uma, a do escritor Caio Riter. Em outro post vou te contar de novo essa história pelo ponto de vista de outro autor, combinado? Daí a gente pode ver no que as histórias divergem, se é que divergem em alguma coisa.

Muito bem. Primeiro quero te contar que este livro do Caio Riter é bem diferente, porque ele cria uma personagem que conta a história da Maria Degolada, numa linguagem bem característica do local onde ela aconteceu (Porto Alegre, Rio Grande do Sul) e isto deixa a narrativa bem interessante. Na verdade, ele cria uma “história” dentro da história. Além disso, as ilustrações do livro, feitas por Joãocaré adicionam um plus, à narrativa, que acabam por deixá-la mais leve, mas sem perder o sentido “assustador” dessa lenda urbana.

Dito isto, vamos à história.

Na cidade de Porto Alegre, em 1899, vivia uma moça chamada Maria Francelina Trenes. Ela morava numa casa humilde com sua mãe. Era moça muito bonita, daquelas de chamar a atenção por onde passava. Era loura, pele lisa. Vivia em frente ao espelho se admirando e se embelezando.  Muito namoradeira, muito alegre, gostava de passear pela cidade e gostava de baile como ela só. Toda sexta-feira era sagrado: Maria Francelina se arrumava toda e ia bailar.

Namorar sério, Maria Francelina não queria. E, não era por falta de pretendentes, bem pelo contrário, os rapazes sonhavam em namorar e casar com ela; já as moças, morriam de inveja da beleza dela, e, como geralmente ocorre nesses casos, falavam mal da linda jovem.

A vida de Maria Francelina seguia assim, até que um dia, num baile, num local perto do Rio Guaíba, ela conheceu um rapaz chamado Bruno Bicudo. Ele se apresentou a ela como Cabo do Exército. Ela gostou dele e ele dela. Dançaram a noite toda. Ela deixou claro para ele que não desejava compromisso sério com ninguém, nem com ele.

Mas, Bruno Bicudo não levou em conta o que a bela moça lhe dissera e passou a passear com ela pela cidade e a comentar para todos que ela era sua namorada. Bruno era muito ciumento e preferia deixar claro a todos da cidade que Maria era dele...

Num certo domingo, próximo da virada do século, Bruno convidou Maria para ir a um piquenique com ele, seu colega de farda de nome Tadeu e a namorada deste. Foram ao Morro do Hospício (atualmente conhecido como Vila Maria da Conceição), zona leste de Porto Alegre.

Escolheram um lugar embaixo de uma figueira. Levaram bastante comida e vinho.  Sentaram, comeram e beberam.

Lá pelas tantas, Maria Francelina e Tadeu conversavam, brincavam e riam muito. Bruno viu e não gostou nada. Chamou a atenção de Maria, reclamou com Tadeu, queria saber o porquê de tanto riso. Maria disse-lhe que eram bobagens. Bruno enfatizou a Tadeu que Maria era dele. Somente dele.

Ao notar que o amigo estava com muita raiva, Tadeu se retirou com a sua namorada, descendo o morro sem titubear.

Bruno Bicudo e Maria Francelina Trenes ficaram a sós. A partir deste momento, muitas são as sugestões/versões sobre o que teria realmente acontecido. O fato, no entanto, é que Maria Francelina foi atingida por um golpe de punhal desferido por Bruno, tendo sido degolada. Ali mesmo. Sem testemunhas. Embaixo da figueira. E, certo é que o ciúme de Bruno foi a mola propulsora do crime.

Após o ocorrido, Bruno (a essas alturas já em desespero por se dar conta do que fizera) desceu o morro e foi à Delegacia. Lá ele confessou o que acabara de fazer com sua namorada. Foi preso. Após, foi julgado e condenado. Morreu na prisão.

“Mas, cadê a assombração?”, deves estar te perguntando. Bom, é aqui que começa esta parte da história.

Conta-se que um dia uma senhora, com sua filhinha doente subiram o morro para apanhar macela e fazer um chá para a menina sarar. Quando se aproximaram do local da figueira viram uma luminosidade sobre ela. A menina viu uma moça e julgou fosse uma Santa. A mãe da menina, porém, concluiu ser a jovem Maria Francelina, ou Maria Degolada (como ficou conhecida). A mulher jurou que pediu à Santinha que curasse sua filha e a Santa Maria Degolada atendeu seu pedido e curou a criança. Evidentemente, essa senhora espalhou o milagre da Santa Maria Degolada aos quatro ventos.

Após o episódio da cura da menina, muitas pessoas relataram terem visto Maria Degolada na figueira e, como ela gostava de bailes às sextas-feiras, surgiu a lenda de que se ela fosse chamada três vezes em frente a um espelho, à meia-noite de uma sexta-feira, ela apareceria e atenderia a um pedido da pessoa, desde que essa pessoa não fosse um militar, nem o pedido a benefício de algum militar, visto ela não gostar de militares por causa de Bruno.

Muita gente disse ter feito o desafio do espelho e afirmam que ela realmente apareceu. Juram de pés juntos!

Em razão dessa história o Morro do Hospício passou a ser conhecido como Morro da Maria Degolada. Posteriormente, com a construção de uma igreja no local da figueira, que buscou homenagear Nossa Senhora da Conceição, e por respeito à memória de Maria Francelina, hoje, chama-se esse local de Vila Maria da Conceição, mas dizem que os pedidos de milagres são feitos (na verdade) à Maria Degolada (que os atende) e não à Maria da Conceição...

E aí, vai ter coragem de chamar três vezes, no espelho, pela Maria Degolada, à meia-noite de uma sexta-feira?

 Sinta-se desafiado!!


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