CANIBAIS, Paixão e Morte na Rua do Arvoredo


Livro: CANIBAIS, Paixão e Morte na Rua do Arvoredo

Autor: David Coimbra

Editora: L & PM – Ano: 2005

 

              Porto Alegre é uma cidade cheia de histórias. É um dos seus charmes.

            Esta que embasa o romance que ora abordamos é bastante conhecida dos cidadãos gaúchos.

 Os crimes citados na obra realmente ocorreram, e seus autores foram os nominados no livro. O que o autor fez foi criar um romance (este fictício) em cima de fatos reais.

            Por mais horrível que pareça, o título da obra é certeiro no tocante ao termo Canibais. A população porto-alegrense do século XIX, embora à época não tivesse conhecimento deste fato, foi induzida ao canibalismo. Isto porque entre os anos de 1863 e 1864, na então denominada Rua do Arvoredo, no centro da capital, mais precisamente na casa de nº 27, aconteceram bárbaros crimes cometidos por um açougueiro de nome José Ramos, com a participação de sua mulher, uma bela moça de origem alemã de nome Catarina Palse.

            O livro conta que José Ramos era um homem dado a cultura em geral. Frequentava o Teatro São Pedro, gostava de poesia, etc. Já Catarina era uma moça de origem alemã com um passado não tão louvável, quanto o permitido pela sociedade, para uma mulher do século XIX. Assim, o combinado entre José e Catarina era que ela deveria sair pela noite para convidar homens para irem à sua casa “conhecê-la” melhor. Atraídos pela beleza da moça, e por suas insinuações de cunho sexual, sempre concordavam em acompanhá-la. Lá chegando, de fato “conheciam-na” mais intimamente. Na sequência, José Ramos, que a tudo assistia dentro do armário do quarto (que tinha corredor de ligação interno com o porão da casa), após um sinal combinado entre ele e Catarina, puxava o alçapão feito especialmente para que a vítima caísse no local onde era morta e esquartejada pelo açougueiro. Feito isto, ele retirava as carnes do sujeito e enchia as linguiças que vendia no açougue.

            O mais interessante é que essa linguiça fazia muito sucesso entre a população, por ser muito mais saborosa que o usual. Inclusive, a alta sociedade porto-alegrense servia essa linguiça em ocasiões festivas, jantares especiais e almoços de família.

A linguiça do açougue de José Ramos custava muito mais caro que o normal e foi deixando o açougueiro com muito dinheiro e bem conhecido na cidade.

            Tudo seguia dando certo para o açougueiro e sua mulher. Porém, certo dia, um homem de nome Walter, que era viúvo, solitário, muito honesto e dono de uma sapataria que ficava ao lado da casa do casal se descobre apaixonado por Catarina. A partir daí acaba surgindo entre Walter e Catarina um romance. Tal foi o interesse da moça no sapateiro, que ela decide mudar de vida, deixar Ramos (cogitou até de matá-lo), casar com Walter e constituir uma família com ele.

            Bom, as coisas não saíram exatamente como Catarina gostaria e a história teve desdobramentos inesperados.

            O livro é muito instrutivo no que diz respeito a como se consolidava a cidade Porto Alegre no período colonial. Mostra o problema da escravidão, já em vias de extinção, entretanto, com a marginalização da população negra, o que só prova que muito pouco evoluiu a sociedade nesse mister, haja vista as ocorrências ainda hoje vigentes sobre o assunto.

            Também se percebe uma Porto Alegre com ruas centrais “de chão batido”, ou cujos veículos mais velozes eram aqueles puxados por dois bons cavalos, além de outras curiosidades bem interessantes para quem vive na Porto Alegre atual.

            Como diz o refrão de uma música dedicada à cidade: Porto Alegre é demais!  E a história contada neste livro faz parte desse charme gaúcho...

Boa leitura!

 

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